O Quilombo do Varzeão, comunidade centenária em Doutor Ulysses (Vale do Ribeira/PR), enfrenta desde dezembro de 2024 uma ação de reintegração de posse movida pela empresa Rio Bonito istração de Reflorestamento LTDA, que alega posse de terras reconhecidas oficialmente como território quilombola pelo INCRA em 2023. Para defender suas terras, os moradores bloqueiam estradas e resistem contra pistoleiros contratados pela empresa, enquanto a Justiça Federal mantém uma liminar que garante sua permanência no território até a titulação definitiva. O conflito, que já incluiu incêndios criminosos e tentativas de expulsão violenta, ameaça apagar 150 anos de história e identidade cultural de uma das últimas comunidades quilombolas do Vale do Ribeira. 3g415e
Reintegração de Posse: Ameaça Judicial e Disputa Fundiária 6wy2w
A ação judicial movida pela Rio Bonito LTDA, empresa que atua com monoculturas de Pinus no Vale do Ribeira, busca retirar famílias quilombolas de um território de 7.242 hectares, já reconhecido pelo INCRA como pertencente à comunidade. A empresa alega posse com base em títulos questionáveis, mas o Quilombo apresentou documentos históricos e antropológicos que comprovam sua ocupação desde 1856, quando João Alves de Souza, tropeiro que auxiliava no abastecimento das tropas da Guerra do Paraguai, recebeu as terras.
As 70 famílias que hoje ocupam a área vivem do trabalho na terra, incluindo cultivo de mel, lavoura, criação de bovinos, exploração de Pinus e extração de resina. Além da imoralidade de expulsar famílias que residem no local há mais de 150 anos, a ação da Rio Bonito é marcada pela ilegitimidade jurídica: a empresa se aproveitou de uma série de transações ilegais ligadas à terra, corroborando o histórico de grilagem na região.
Nos próprios processos judiciais, a empresa reconhece que parte do território que reivindica (11 lotes de terra) pertence à Associação Quilombola do Varzeão. O INCRA, no entanto, limitou-se a reconhecer os atuais 7.242 hectares — valor visivelmente inferior aos 90.404 hectares originais do Quilombo. A reivindicação da Rio Bonito baseia-se em direitos herdados das empresas Línea e Avanthy, extintas em 2019. Na época, já se comprovou a impossibilidade jurídica de transferência desses títulos à Rio Bonito, transformando todo o processo em um “circo de ilegitimidade”, como definem os quilombolas.
Resistência Armada: Porteiras, Pistoleiros e a Defesa do Território 5r494f
Desde novembro de 2024, os quilombolas instalaram três porteiras para bloquear o o de madeireiros e pistoleiros. A medida foi resposta às incursões da Rio Bonito, que tentou acusar a comunidade de “roubo de madeira”. Os quilombolas, no entanto, comprovaram com notas fiscais que os Pinus foram plantados por eles mesmos.
A tensão escalou em dezembro de 2024, quando seguranças da empresa invadiram o território armados, tal como pistoleiros para amedrontar e ameaçar, mas se depararam com a mobilização dos quilombolas dispostos a defender suas terras e expulsar os invasores. A associação também ou a revistar veículos na estrada rural para evitar novas invasões, medida criticada por madeireiros, mas apoiada por entidades como a Terra de Direitos e o Ministério Público Federal (MPF).
“Sempre falam que se tem direito, e que o quilombola tem direito, mas esse direito não aparece. Por isso, hoje a comunidade resolveu lutar por esse direito! No local, enfrentar essas empresas, mesmo com risco de ataque, ou de perder algum da família. Vamos correr esse risco e lutar pelo que é nosso” — Liderança do Quilombo do Varzeão
150 Anos de História: Expulsão, Redução Territorial e Retomada 4i2y1q
Originalmente, conforme o inventário de João Alves de Souza de 1856 e decretos da década de 1970, o Quilombo do Varzeão ocupava 90.404 hectares, território destinado às famílias negras fundadoras. Com a chegada de colonos brancos no século XX, a área ou a ser chamada de “Vila Branca”, e os quilombolas foram expulsos para o interior da terra. “Antes, o latifúndio não queria essas terras por causa do relevo acidentado.” Mas com o Pinus, a grilagem avançou com pistoleiros”, explica uma liderança.
Nos anos 2000, restavam apenas 70 alqueires para as famílias quilombolas. Através de ocupações e resistência organizada, a comunidade recuperou parte das terras, chegando aos atuais 7.242 hectares reconhecidos pelo INCRA. “Retomamos o que é nosso, metro por metro. Mesmo sendo menos que o original, é aqui que vivemos e trabalhamos”, afirma a liderança.