No dia 8 de janeiro, por volta das 11h30 da manhã, dez homens armados invadiram e destruíram o cercado do pequeno sítio de uma família camponesa localizado no município de Jaqueira, Zona da Mata Sul de Pernambuco. Além de afirmarem que da próxima vez voltariam para expulsá-los da casa, também disseram: “tomem cuidado com seus filhos”. Segundo a denúncia, o bando paramilitar foi contratado pela empresa Negócio Imobiliária S/A, arrendatária das terras da já desativada Usina Frei Caneca. 6x163x
Na área vivem há mais de 70 anos cerca de 1,2 mil famílias camponesas. As famílias relatam que desde a chegada da empresa, em 2017, com o intuito de expulsá-los da terra, bem como fazia a antiga suposta proprietária, promovem intimidações, destruições e queimadas de lavouras, destruição de fontes d’água, ameaças e perseguições, todas elas ações realizadas por policiais militares da reserva que também por diversas vezes fizeram rondas exibindo pistolas e algemas.
A dívida milionária da Usina chama a atenção. Segundo um vereador do município, José Ademir Rodrigues, a Usina Frei Caneca – com mais duas empresas da mesma família – possui uma dívida com as fazendas estadual e federal, que chegam ao montante de cerca de R$ 500 milhões, sem contar as mais de 124 execuções por não quitação de dívidas trabalhistas, o que a coloca entre os 100 maiores devedores da Justiça do Trabalho.
O descaso do velho Estado
Após o ocorrido, os camponeses seguiram à delegacia a fim de registrar uma queixa. Os servidores da delegacia perguntaram do que se tratava e informaram que não poderiam “parar” o que estavam fazendo para registrar o Boletim de Ocorrência, pedindo que retornassem às 14h. Ao retornarem, encontraram a delegacia fechada.
Atualmente existem cerca de 30 ações promovidas pelo latifúndio que visam expulsão de famílias das terras em que vivem. O caso já foi denunciado ao Ministério Público Estadual, ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), ao Instituto de Terras e Reforma Agrária do Estado de Pernambuco (Iterpe), à prefeitura de Jaqueira, à Câmara de Vereadores, à Diocese de Palmares e aos gerentes do velho Estado, porém nada é feito.
Comunidade camponesa mobilizada em setembro de 2019 devido ao conflito provocado por empresa imobiliária em Jaqueira (PE). Foto: Comissão Pastoral da Terra Nordeste 2