A Prefeitura da capital paranaense instituiu um regime sistemático de assédio contra servidores em cargos comissionados para garantir recursos para a campanha do vice-prefeito Eduardo Pimentel (PSD), sucessor do atual prefeito Rafael Greca (PSD). O superintendente de Tecnologia da Informação da Secretaria da istração, Antonio Carlos Pires Rebello, é denunciado por constranger seus subordinados a comprarem ingressos de um jantar beneficente do candidato, no valor de R$ 3 mil. É o que revela áudios obtidos pela reportagem do Plural Jornal. 54723y
Nos áudios Antonio Carlos impõe a seus funcionários:
“Recebi uma incumbência e não tem como não fazer. O Alexandre (Jarschel de Oliveira, secretário de istração) recebeu o pessoal da campanha do Eduardo e vai ter um jantar e todo mundo que pode colaborar com o jantar vai precisar fazer. Não é pouco, não é baixo, mas já veio determinado como vai ser. Não tem como negociar isso”.
O jantar em questão foi organizado pelo diretório estadual do PSD na noite de 3 de setembro no restaurante Madaloso em Santa Felicidade e reuniu mais de 2 mil pessoas. Com o ingresso a R$ 3 mil, a receita obtida pelo diretório pode ser de até R$ 6 milhões. Entre os convidados estavam o atual governador arqui-reacionário Ratinho Junior, o prefeito de Curitiba Rafael Greca, o ex-governador Paulo Pimentel (avô de Eduardo) e o candidato a vice-prefeito, o bolsonarista Paulo Martins (PL), além de empresários, latifundiários e militares da nata reacionária do Paraná.
Ou faz assim ou faz caixa dois 186x4c
“Está ficando muito descarado esse negócio”, foi o que disse na reunião uma servidora que denunciou a ilegalidade flagrante do ato. Ao que Rabelo, sem nenhum escrúpulo, responde: “Isso aqui é ajuda para a campanha, não tem jeito. Ou faz assim ou faz caixa dois, ou faz outras coisas. Ele achou melhor fazer pelo jeito mais certo, que é cada um ajudando”.
O superintendente ainda orienta que as doações não sejam feitas diretamente pelos funcionários, mas por pessoas próximas para não deixar rastros. A mesma servidora então responde que se fosse algo legal não haveria problema em eles mesmos fazerem o pix: “É ilegal (…) Se você pudesse contribuir de bom grado, você poderia fazer o pix”, afirmou.
Cada um tem os seus problemas 2b2f3v
Ao final da reunião um dos servidores, chorando, contesta o superintendente, que o ameaça de demissão:
Servidor – Não vai rolar não.
Rebello – O que não vai rolar?
Servidor – Não vou conseguir pagar. Não tem como pagar. Para qualquer coisinha muito menor do que isso eu estou buscando parcelar o meu cartão, você acha que tem condições? A prefeitura me deve há três anos por força de decreto que devia pagar e não paga.
Rebello – Esta postura é excelente. É excelente você colocar isso na mesa.
Servidor – Estou colocando a real.
Rebello – Então coloque e assuma.
Servidor – Estou assumindo. Se o próprio Alexandre (secretário), como você sabe, me puniu por estar (inaudível)…
Rebello – Eu não quero ouvir mais (…). Eu não quero ouvir. Eu não quero te ouvir mais.
Servidor – Eu estou me ferrando em casa.
Rebello – Cada um tem os seus problemas.
Servidor – Cada um tem os seus problemas, mas o que é por força de decreto (inaudível)…
Rebello – Que decreto, aquele negócio não vale aquilo que você está falando, ele deveria ser estudado…
Servidor – A gente fica sofrendo em casa com a família…
Rebello – Eu não vou discutir com você, porque se eu discutir com você eu vou te mandar embora.
Servidor (chorando) – Manda embora. Então manda. Palhaçada, a gente fica ando necessidade em casa e aí vem querer cobrar R$ 700 da gente. Não pagam nem o que devem.
Rebello – Você quer colocar um problema seu, da vida tua agora nessa reunião. Você quer resolver o teu problema aqui nessa reunião.
Prefeitura nega qualquer responsabilidade ijh
Após a divulgação dos áudios, a Prefeitura exonerou Rabelo, tratando o ocorrido como um fato isolado que partiu de sua própria iniciativa. Nada mais inverídico pois, na própria reunião, ele chega a citar outras duas superintendentes incumbidas da mesma tarefa: Alessandra Paluski, superintendente de istração da secretaria, e Luciana Varassin, superintendente de Gestão de Pessoal da pasta, que, junto dele, ao todo deveriam distribuir 150 ingressos.
Continuação da velha política 434f44
Por mais escandaloso que seja, tal fato na verdade não tem nada de novo. A cada ano o processo eleitoral assume um caráter mais fisiológico na capital paranaense. Pimentel se vende como uma promessa de renovação, ignorando o fato de pertencer a uma dinastia política de mais de 50 anos, envolvida até os dentes em corruptelas de baixo clero.
Supostamente do outro lado do espectro, um ex-prefeito, o lava-jatista Luciano Ducci, é o candidato da “esquerda” eleitoreira, que comodamente faz vista grossa ao seu ado de cabo eleitoral e vice por 8 anos do gangster Beto Richa, preso 3 vezes por corrupção. O processo é tão desmoralizado que o atual prefeito, Rafael Greca, nas eleições de 2020 teve 499,8 mil votos contra 513,2 mil de abstenções, brancos e nulos, fazendo do boicote eleitoral o verdadeiro vencedor do pleito.