Na última segunda-feira (09/06), por volta das 14h, o ex-presidente Jair Bolsonaro e sua camarilha ― composta por mais sete réus ― começaram a prestar depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelas atividades da trama golpista de 2022. O AND vai acompanhar o depoimento de cada interrogado. 5j63
Bolsonaro e seu bando são acusados dos crimes de “organização criminosa armada, golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado democrático de direito, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado”.
Todo o processo é concentrado no núcleo duro bolsonarista. As investigações da Procuradoria-Geral da República (PGR) e o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) ignoram, contudo, a responsabilidade dos generais do Alto Comando das Forças Armadas (ACFA) no processo de golpe no País. Os generais não participaram diretamente na trama de extrema direita, mas por anos fomentaram o ideário de um golpe militar no país e orquestraram ações concretas de intervenções calculadas na política nacional.
Os réus a serem interrogados são, respectivamente:
- Mauro Cid (ex-ajudante de ordens da Presidência e delator);
- Alexandre Ramagem (ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência);
- Almir Garnier (ex-comandante da Marinha);
- Anderson Torres (ex-ministro da Justiça);
- Augusto Heleno (ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional);
- Jair Bolsonaro (ex-presidente da República);
- Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa);
- Walter Braga Netto (general da reserva e ex-ministro da Casa Civil)
O primeiro réu golpista a depor na última tarde foi o ex-ajudante de ordens e tenente-coronel Mauro Cid, delator inicial dos preparativos para tentativa de ruptura institucional.
Durante seu depoimento, Mauro Cid revelou que Bolsonaro recebeu a minuta do golpe (intitulada de “Copa 2022”), a avaliou e até mesmo redigiu alterações no documento. Além disso, afirmou que o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier Santos, encabeçou o grupo “linha-dura” na trama do golpe, e que o mesmo deixou “tropas à disposição” do então presidente.
Ele também confessou que outro general, Mauro Fernandes, era parte ativa do mesmo grupo, frisando ainda o quanto Mauro era “sempre muito radical nas ações que deveriam ser tomadas”.
Cid também declarou que as autoridades-alvo do golpe seriam “vários ministros do STF e o presidente do Senado”. Ele também confirmou que o financiamento para os acampamentos golpistas e para toda a trama criminosa viria de figurões do agronegócio e do latifúndio.
Acrescentou também que, nos referidos acampamentos, estavam presentes “militares das Forças Especiais somados à militares de inteligência, realizando levantamentos sobre vulnerabilidades e potenciais ações”.
Ainda segundo Mauro Cid, havia uma forte “pressão” por parte de Bolsonaro sobre o general Freire Gomes para que o golpe acontecesse o quanto antes: “Se o general não tomar uma atitude, então que coloquem outros militares que possam tomar”. O capitão do mato queria retirar o general do comando do Exército caso a exigência não fosse acatada.
Outra ordem latente de Bolsonaro, de acordo com Cid, era que o Ministério da Defesa e a inteligência dos militares encontrassem a todo custo alguma fraude nas eleições.