A desocupação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), levada a termo pela Tropa de Choque da PM a serviço da reitoria de Gulnar Azevedo, neste dia 20/09, que tinha o objetivo de dar um golpe definitivo na luta contra a “AEDA da Fome”, se transformou numa grande derrota política. As centenas de tropas militares não conseguiram deter o núcleo de resistência dos estudantes que, ao contrário, saíram ilesos. As forças policiais prenderam dois estudantes, um jornalista correspondente de AND e o deputado Glauber Braga. Por sua vez, a resistência ativa do movimento estudantil lançou, para toda a cidade, a luta pela manutenção das bolsas e permanência estudantil, impedindo o seu isolamento. 4r1t
O AND fez uma cobertura exclusiva e ao vivo de todos os desdobramentos, que pode ser conferido no vídeo.
Estudantes desmoralizam reitoria e Tropa de Choque 182f4d
A “reintegração” se iniciou às 13h, quando centenas de policiais militares da Tropa de Choque chegaram à Uerj com um verdadeiro aparato de guerra: caminhões, camburões, ônibus, fardas especiais e armamento de guerra. Os policiais cercaram todo o perímetro da Uerj, fechando cada entrada da universidade. Às 13h30, os policiais começaram a lançar bombas dentro das instalações, na tentativa de intimidar os estudantes.
Os estudantes organizados, desde dentro da universidade, aplicaram um plano de resistência e enganaram as forças policiais. Ainda pela manhã, definiram os próximos os da luta em Assembleia. Às 13h, quando a incursão policial se preparava, os estudantes foram ao combate.
De fora da universidade, pequenos grupos de estudantes fecharam importantes vias de o com barricadas em chamas, como na avenida Rei Pelé (que dá o à universidade e ao estádio do Maracanã) e em outros pontos, dispersando a atenção da tropa da PM e impedindo sua ação unificada. De dentro da universidade, os estudantes lançaram rojões, pedras e outros objetivos, atraindo as forças policiais para uma extremidade enquanto, por outro lado, o núcleo de resistência dos estudantes, furando o cerco militar, quebrou os cadeados e dispersou sem nenhuma baixa.
Do ponto de vista político, a situação se desenrolou de forma negativa para a reitoria. Primeiro, porque a mobilização, embora tenha se encerrado a ocupação, não foi desmoralizada e o seu núcleo organizador segue intacto; segundo, porque a resistência ativa e até as últimas consequências, pelo movimento estudantil, produziu a mais ampla popularização da luta e da pauta justa dos estudantes e da repressão hoje desatada, propiciando novas ondas de lutas e limitando a margem de manobra da reitoria, forçada a negociar ou a se desmascarar definitivamente como reitoria reacionária, a despeito de sua filiação partidária em partido da falsa esquerda. Quanto ao plano militar da PM, de cercar e fazer o movimento estudantil capitular mediante a pressão e desocupar de forma a desmoralizar o movimento, tampouco foi cumprido. Nem mesmo pôde deter o núcleo mais ativo da luta estudantil.
Essa desocupação violenta da universidade estava sendo preparada desde o dia 17. Naquele dia, o judiciário do Rio de Janeiro concedeu uma liminar de “reintegração de posse” da universidade à reitoria da Uerj. A decisão determinava a imediata desocupação da universidade e a desobstrução de todos os os em até 48 horas. Na audiência, estiveram presentes cinco dos estudantes citados pela Procuradoria Geral da UERJ, e um conjunto de pró-reitores, além da própria Gulnar Azevedo, reitora reacionária da universidade.
Reitoria promete seguir a perseguição 3z6m4e
Em nota divulgada, através do Instagram oficial da Uerj, a reitoria afirmou que enviará, para as chamadas autoridades, todo tipo de foto e vídeo que permita a identificação dos estudantes, numa flagrante campanha persecutória e de criminalização da luta estudantil.
A declaração da reitoria também afirmou ter como missão “proteger o patrimônio da Universidade contra grupos invasores”, tratando os estudantes como invasores e criminosos por defenderem a própria estrutura universitária e por exigirem garantias dignas de estudo. Evidentemente, a atuação de grupos paramilitares como seguranças extra-oficiais da reitoria, que invadiram a universidade para auxiliar na desocupação e repressão dos estudantes no dia 19, não são tratados como os verdadeiros invasores.
A reitora chegou a afirmar em entrevista ao monopólio de imprensa que os estudantes não queiram negociar e que estariam “ameaçando” funcionários da reitoria. Esta mesma reitora chegou a declarar, no início da ocupação em julho, que a ocupação dos estudantes que exigem a garantia dos direitos e auxílios universitários era similar aos atos bolsonaristas de 08/01, afirmando que a tática de luta dos estudantes é antidemocrática.
Os estudantes da Uerj, que então ocupavam o prédio Reitor Lyra, chegaram a desmentir em vídeo as acusações da reitoria policialesca e reacionária de que os estudantes não querem negociar. “Nós queremos sim negociar. Nossas pautas são: a revogação imediata do AEDA 38 e a não criminalização dos estudantes. E informamos, que se a reitoria quiser enviar a tropa de choque e a polícia militar para cá, tudo que acontecer é de responsabilidade dela!”. E continuam: “Nós queremos sim negociar e nossas pautas são claras!”. Ao final, os estudantes entoam palavras de ordem de “Revoga Já! Lutar não é crime, vocês vão nos pagar!”.
Contra o “AEDA da Fome” 2wk5r
O Ato Executivo de Decisão istrativa (Aeda) Nº0038, conhecido por “AEDA da Fome”, que instaura novas medidas para a concessão e manutenção de auxílios e bolsas para estudantes, tanto cotistas quanto não cotistas, causou revolta em todo o corpo estudantil. O Aeda aprovado institui que estudantes não cotistas devem possuir uma renda inferior a meio salário mínimo para poderem receber a Bolsa Auxílio a Vulnerabilidade Social (Bavs), que era concedida até então a estudantes que recebiam até um salário mínimo.
Além disso, outras alterações na política de assistência estudantil vêm causando revolta entre os estudantes. Os auxílios na mira da reitoria são: o auxílio alimentação nos campi que possuem bandejão, a alteração o auxílio material didático de R$ 600 (antes pago semestralmente, ará a ser pago anualmente), sendo necessário aos estudantes que o recebem apresentarem comprovantes dos itens comprados com o dinheiro do auxílio. Todas essas alterações foram feitas através do Aeda, não sendo discutido na instância de deliberação máxima da Universidade, o Conselho Universitário.